De passagem

 

          No passado as viagens eram difíceis, demorava-se longo tempo para percorrer poucos quilômetros a cavalo ou de carroça. Nos antigos sertões do Ipiranga, a hospitalidade era marcante, era comum os viajantes pedirem água ou pouso pela estrada, onde passavam a noite nos paióis, casebres ou cabanas para ferramentas.

          Sempre os viajantes eram alegres embora cansados, porém num certo final de tarde, apareceu um homem bastante amedrontado, pois levava uma mala cheia de moedas de ouro. Chegando ao mais humilde dos casebres pediu água e pousada, porém sempre abraçado à sua mala, que considerava ser sua única riqueza. Foi recebido por um solitário caboclo que logo lhe deu atenção. Ao entrar naquele ressinto, o viajante se impressionou com a imensa felicidade do caboclo, que lhe contava causos regados a deliciosos risos. O viajante não entendia qual a fonte de tanta felicidade, por que tantas bem aventuranças, se vivia num casebre humilde de chão batido, a mobília precária de tábuas rústicas, panelas e talheres envelhecidos...

          — Onde estão tuas riquezas? — perguntou o viajante.

          — No meu espírito — respondeu o caboclo. — E as tuas?