A lição da macieira

 

 

          Um camponês de Ipiranga ficou muito feliz pelo nascimento do primeiro filho, e desejando que ele aprendesse desde cedo buscar a sabedoria, resolveu plantar num local distante da casa quatro macieiras, uma longe da outra, de forma que estando perto de uma não pudesse ver a outra.

          O tempo foi passando, mas sempre tendo o cuidado de nunca mostrar ao filho uma árvore de maçã, até que chegasse o momento certo.

          Quando o menino chegou aos sete anos, o camponês revelou que chegou ao fim o tempo da inocência e ilusões, e que se iniciava o tempo das lições. O primeiro ensinamento constituiria em visitas às macieiras que se tornaram árvores, porém, uma só árvore de cada vez, no intervalo de um ano. 

          Em cada visita o camponês levou uma foice e um pequeno pacote com adubo.

          A primeira visita foi no inverno. Ao chegar, o pai pediu que o filho analisasse a árvore. Depois de olhá-la com a imaturidade infantil, o filho disse:

          — Não passa de uma árvore morta, sem folhas e sem viço — o menino falou.

          — Mostro-lhe a foice e o adubo, faça o que você achar melhor — o pai falou.

          Imediatamente o filho pegou a foice e com certa dificuldade a cortou.

         O pai perguntou o motivo que levou a tomar aquela decisão.

          — Uma árvore seca não serve para nada, somente para ser queimada como lenha — o filho respondeu.

          A segunda visita foi na primavera. O pai pediu que analisasse a segunda macieira da mesma forma que a primeira. O filho demonstrando profunda obediência, pôs-se a olhá-la, em seguida disse:

          — Esta árvore tem muitas flores e poucas folhas, além disso, não há nenhum fruto. Ela é bela, deveria ter nascido numa praça para ser adorada, e não na mata, ela está errada. Na mata há muitas abelhas, ela irá atraí-las deixando este lugar perigoso. Além disso, os pássaros gostam mais de árvores com muitas folhas.

          — Eis a foice e o adubo, você tem a decisão sobre ela — o pai falou.

          Com muitos golpes, em virtude da pouca força, o filho deitou-a no chão.

          O pai perguntou o por quê daquela decisão:

          — Por causa do perigo com as abelhas, além disso, uma árvore que só dá flores é inútil para os homens, o mais importante são os frutos.

          A terceira visita foi no verão. Ao olhar aquela árvore estranha o filho sentiu algo diferente, pois estava coberta de pequenos frutos, de um vermelho vivo que pareciam deliciosos. Arrancou o fruto mais próximo e experimentou, imediatamente a língua se arrepiou, a testa franziu, aquele azedume intenso fez com que seus olhos se fechassem. Cuspindo, o filho questionou:

          — Pai, por que o senhor só me leva para conhecer árvores inúteis?

          — É simples, meu filho! Para você aprender hoje a analisar bem seus atos, para que amanhã possa colher bons frutos, não cometer injustiças, não se arrepender, não sofrer... A decisão dos atos é você quem comanda, mas as consequências fogem do teu controle. Agora você pode escolher a foice ou o adubo: corte-a se achares que não é boa, adube-a se achares que é.           

          O filho olhou cabisbaixo para o pai, pois mesmo que ainda não entendesse, o pai era o seu grande herói. Pegou a foice, e a macieira teve o mesmo fim das outras duas.

          — Está certo da sua decisão? — perguntou o pai.

          — Era outra árvore inútil — respondeu o filho. — estava coberta de frutos azedos, não serviam para a gente comer, nem para os passarinhos.

           A quarta visita foi a mais difícil, porque foi no outono. Outono é a estação do conflito, pois o calor e o frio brigam na mesma hora para ver quem vence. Ora no sol é quente demais, ora na sombra é frio demais...   

          Embora repleta de frutos enormes e cheirosos, o menino vacilou, pois antes passara por uma triste experiência, e não queria sofrer de novo. Deu uma pequeníssima mordida, embora tenso, sentiu um sabor adocicado na ponta da língua. Para ter certeza teria que ter coragem de experimentar um pedaço maior. Então conheceu o fruto mais cheiroso e se deliciou com a doçura.

          — E agora! Quer a foice ou o adubo? — inquiriu o pai.

          — O adubo! Esta é uma boa árvore! — respondeu a criança.

          Na volta para casa o pai concluiu a lição:

        — Hoje você poderia ter quatro macieiras cheias de deliciosas maçãs, mas por

 causa das aparências você cortou três. É preciso conhecer bem a natureza das coisas, e ter paciência para que o tempo as revele.

          O filho ficou deslumbrado, a lição das macieiras foi muito importante na vida dele. Aquela criança cresceu e se tornou um sábio na vida, aprendeu que as pessoas são como as árvores, ora estão no inverno, ora na primavera, verão ou outono. 

          Quando uma pessoa parece uma árvore no inverno, seca e sem vida, carece do adubo da paciência, amor... no tempo certo ela dará frutos de acordo com sua natureza. Os homens são como as árvores, não estão secas ou cheias de frutos o tempo todo.