Arrependimento

 

          Dois meninos se desentenderam numa praça jogando bola, no auge da exaltação o mais velho furou a bola do mais novo numa discussão sobre as regras do jogo. Tempos depois a revolta se acalmou dando lugar a reflexão, então o que cometeu o dano se arrependeu profundamente. Veio a consciência de que era seu único brinquedo, muito pobrezinho, de roupinhas simples e que muitas vezes andava descalço.

          Começou a orar todas as noites pedindo que Deus que tirasse aquele grande sentimento de culpa do coração. Mas, mesmo depois de intensas orações, não conseguia alívio.

          Desesperado resolveu procurar o sacerdote da Igreja Matriz para contar sua culpa, pedir conselhos e um alento para voltar a ter paz.

          O sacerdote que ali devotava o recolheu em uma câmara reservada, e aos prantos o menino desabafou:

          — Eu me arrependi e orei muito, despendi todo esforço que tinha nas orações, meu coração dói e meus olhos choram, mas a dor insiste em amargurar meu coração.

          — Filho! — respondeu o sacerdote. — Você tem certeza de que já fez tudo o que podia fazer?

          — Sim — respondeu o menino. — Eu me arrependi e pedi perdão a Deus. Fiz tudo, não é mesmo?

          — Não meu filho. Falta o principal.

          O menino curvou a cabeça a pensar. Logo o sacerdote revelou o que faltava:

         — Falta você pedir perdão a ele.

          Uns dias se passaram e, quando o sacerdote passava por aquela praça encontrou os dois meninos brincando, perguntou de quem era a bola nova.

          — Era minha, agora é do mais novo — respondeu o mais velho sorridente.

          O sacerdote os abençoou e seguiu satisfeito.

          Às vezes não basta pedir perdão a Deus, é preciso antes reconciliar com nossos irmãos.